Mike Brown e Domantas Sabonis, o Motor de Ataque.

slasher
5 min readJan 18, 2023
Mike Brown e Domantas Sabonis conversando durante uma partida.

A não tão recente troca entre Sacramento Kings e Indiana Pacers trouxe muitas críticas a franquia da California, era difícil imaginar qual o objetivo em trocar um valioso jovem de 21 anos + um dos melhores arremessadores da liga por um pivô de 26 anos que talvez não mudaria o patamar do time, mas passada metade da temporada 22–23 é mais difícil ainda não dizer que a trade foi positiva para ambos os lados.

Os Kings vivem o seu melhor momento desde a temporada 05–06, quando tiveram 44–38 de recorde e foram eliminados no 1° round, hoje são seed #4 tendo 57.1% de aproveitamento e 117.3 offensive rating, correspondente ao 3º melhor ataque da liga.

Mas como eles passaram de uma equipe de 30 vitórias em 21–22 para essa máquina ofensiva que estamos vendo atualmente? Bom, é isso que tentarei responder hoje.

Com Mike Brown contratado como novo Head Coach dos Kings, a liga viu o ex-assistente técnico de Steve Kerr assumir um grande desafio em Sacramento, comandando um intrigante elenco que busca finalmente reconstruir uma verdadeira cultura na franquia, e bem… está funcionando.

Relembrando as boas manias que aprendeu com ao longo da carreira e mais recentemente com a dinastia dos Warriors, trouxe além de uma transição explosiva e eficiente, uma flow offense bem coordenada e funcional.

Stever Kerr e Mike Brown gesticulando para jogadores do Warriors.

Assim como Kerr nos Warriors, Brown tem em sua flow offense, ou ataque de meia-quadra, um incrível esquema de split actions, ou seja, um sistema de constantes movimentações fora da bola utilizando screens e handoffs, forçando falhas da defesa e buscando os melhores espaços possíveis.

É aí que entra o All-Star Domantas Sabonis, um pivô móvel, forte, com um ótimo footwork e bons handles, perigoso como roll man, que vai te entregar 18.9 pontos de média em +9.6 rTS%, e que ainda traz outras 2 habilidades em nível elite: bloqueios e passes.

Domantas Sabonis.

Atuando como um Center-Forward, ou seja, sendo um pivô que flutua pelas regiões do high post e elbows ao invés do low post e dunker spot, Sabonis é um dos melhores jogadores da liga executando bloqueios que realmente criam separações entre o Ball Handler e seu POA (defensor do ball handler), gerando zonas confortáveis de arremessos para seus companheiros, potencializando jogadores como De’Aaron Fox e Kevin Huerter.

Mas o que faz Domantas ser tão importante é sua incrível capacidade como decision maker, não precipitando as jogadas e tendo calma suficiente para esperar as movimentações off-ball do seu time.

Percebam a variedade de jogadas que acontecem a partir do posicionamento de Sabonis nas mesmas regiões (high post e elbow), se atentem nas movimentações fora da bola, como o pivô esconde bem a intenção e toma ótimas decisões.

Vem tendo a melhor temporada da carreira como playmaker e facilitador, em eficiência e impacto, é o motor ofensivo com e sem a bola, possuindo médias de:

  • 12.7 potenciais assistências
  • 18.9 pontos criados por assistências
  • 13.2 pontos criados com screen assists – 1° na liga

Outro detalhe é a produção dos Kings com Sabonis on e off-court, são 120.9 pontos a cada 100 posses com ele em quadra e apenas 106.6 com ele fora, e visto que os Kings tem um dos melhores bancos da liga, é possível ver quão impactante o pivô de Sacramento é.

Respectivamente: Fox, Sabonis e Huerter.

Agora falando do fit com De’Aaron Fox, um mestre pausando e acelerando as jogadas, é realmente divertido assistir os dois em ações de Pick-and-Roll ou handoffs, Fox encontra muitos arremessos confortáveis e colapsa ainda mais as defesas adversárias.

A velocidade do armador também é bem aproveitada por Sabonis, que por ter alta qualidade como passador possui facilidade em achar Fox cortando para a cesta ou em situações de transição.

Percebam como os bloqueios são tão eficientes que permitem Fox progredir na melhor direção, acelerando e pausando como quiser.

Partindo para Kevin Huerter, é impressionante o encaixe e química presente no “2-man game” dos dois, principalmente quando pensamos que apesar de apenas 38 jogos juntos, 78 das 162 assistências recebidas por ele são do pivô.

Boa parte disso se deve a capacidade de Huerter em abusar dos vários handoffs, screens e kickouts de Sabonis, arremessando 51.4% 3P em passes vindos dele, não à toa 6.1 dos seus 7.0 arremessos de 3 são open ou wide open.

Kevin é quem mais utiliza handoffs na liga [3.4] e também o 2° com mais PPP [Pontos Por Posse] entre jogadores com pelo menos 2 posses pj, com 1.16, abaixo apenas de LaMelo Ball.

Notem a qualidade dos arremessos que Sabonis cria para Huerter apenas com bloqueios.

Os números da equipe expressam perfeitamente tudo que foi dito acima, visto que Sacramento é a equipe com mais handoffs por jogo [10.6] desde que a estatística começou a ser registrada em 2015–16, além de ser:

  • 4ª em cuts
  • 4ª em passes
  • 25ª em isolations
  • 3ª em potenciais assistências

Mike Brown é um verdadeiro doutor na arte de coordenar um sistema complexo, faz as movimentações dos Kings serem magnificamente alinhadas enquanto mostra um set ofensivo extremamente variado e divertido.

Extrai o melhor de Domantas Sabonis e potencializa as qualidades individuais usando-as coletivamente, e olha que nem falei de jogadores como Malik Monk e Keegan Murray…

A cultura.

Enfim, o front-office do Kings realmente fez um excelente trabalho na construção de sua comissão técnica e também do seu elenco, Mike Brown com certeza é um dos melhores técnicos da liga e está no melhor lugar que poderia encontrar.

De’Aaron Fox, Domantas Sabonis, Kevin Huerter, Malik Monk e Keegan Murray certamente estão no caminho certo e é muito bom saber que a cultura está sendo criada, será muito bom vê-los nos playoffs…

Light the Beam.

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